domingo, 25 de outubro de 2009

RS: 17-10-2009 ~ 20-10-2009

mirante de ferro - Gasômetro
Antes de querer conhecer qualquer estado brasileiro minha maior pretensão era viajar para o Rio Grande do Sul. Cresci ouvindo Engenheiros do Hawaii por causa do meu irmão e mesmo depois que ele casou e levou os CDs embora continuei ouvindo desde os clássicos dessa banda até as canções atuais.
Engenheiros do Hawaii
Foi em 2004 que conheci um gaúcho que me despertou a atenção para o sotaque que aos meus ouvidos era tão agradável, e em 2006 surgiu a promessa de realizar meu sonho depois de concluir minha graduação em arte visuais.
Durante esse período de três anos consegui conter minha ansiedade, mas na última semana que antecedia a viagem achei que ia morrer com taquicardia. Todos os dias voltava do trabalho ouvindo Engenheiros e sonhando com Porto Alegre.
Enfim o dia tão almejado chegou. Na madrugada fria e chuvosa do dia 17 de outubro eu e a Daniela estávamos no aeroporto de Guarulhos torcendo para que no Sul o tempo estivesse melhor, pois a mais de duas semanas só se ouvia as informações que o Rio Grande do Sul parecia Forrest Gump no Vietnã, mas chegando lá fomos presenteadas com um tempo ensolarado e agradável.
Esta foi a minha primeira viagem de avião. Na janela só consegui ver uma névoa branca, quando de repente vi o céu azul e abaixo dele todas as nuvens. Parecia tudo tão sólido: um mar de neve e algodão. Enquanto algumas nuvens projetavam sobre outras suas sombras, outras possuíam um sutil “arcoirizado”. Minha única angústia durante o vôo foi quando meus ouvidos tamparam, e acreditem: só voltaram ao normal quando retornei a São Paulo.
da janela do avião...
Chegando no aeroporto de Porto Alegre, lá estava me esperando o Diego (para contar como conheci esse gaúcho e sobre a nossa amizade precisaria fazer outro blog). Naquele momento pude saber o quanto aprazível é chegar num lugar distante e desconhecido e ter alguém esperando por ti...
A rua onde ficava a hospedaria parecia com a Teodoro Sampaio por causa das lojas especializadas em instrumentos musicais. No hotel, que tinha um elevador que parecia ter vida própria, encontramos nossa amiga Maralice acompanhada por outros amigos daqui de São Paulo, todos com interesse na 7ª Bienal do Mercosul. Inclusive, conheci o Daniel e o Igor, que são amigos de classe de um amigo que conheço só pela Internet.
Depois de comer um pastel que serviu como café da manhã, fomos passear pelo centro e lá descobri que na verdade o laçador da capa do álbum Minuano é um monumento porto-alegrense, e que Minuano, antes de ser nome do álbum dos Engenheiros e marca de sabão, é um vento muito frio e seco do Sul.
capa do álbum Minuano dos EngHaw - 1996
Almoçamos num lugar suspeito com garçons muito simpáticos onde parecia ter um bingo clandestino escondido, em frente uma lojinha católica cheia de santos (o que seria o meu carma naquele dia) e descobri a cerveja local – Polar. Assim que falei que tomaria a mesma em São Paulo quando sentisse saudade de POA, o Diego me contou sobre o slogan: “A melhor é daqui!” Ou seja, só quando eu for pr’a lá de novo então...
Passamos algum tempo naquela mesa. O Diego tocando suas canções enquanto a Dani e a Mara socializavam com uma vendedora muito boa-praça de incenso.
Na Casa de Cultura Mario Quintana fomos tomar café (todos com nome de santos) e seguimos então para o cais, um dos lugares onde estava ocorrendo exposições e performances. Em um dos trabalhos vibrei ao ler uma referência de Alucinação dos Engenheiros – “amar e mudar as coisas”...
7ª Bienal do Mercosul
Após contemplar o Rio Guaíba lá do cais voltamos para o hotel e descansamos um pouco para irmos para a Cidade Baixa. Todos os táxis são da cor laranja e tem uma listrinha azul e curiosamente a conta sempre dá “dez pila”, assim como os PFs são bons e fartos por “seis pila”. Com muito custo escolhemos uma pizzaria cujos sabores tinham nome de artistas e haviam tesouras para abrir os saches de ketchup e mostarda.
Daniel, sache de ketchup e tesoura
Para encerrar a noite que já tinha se encerrado uma hora antes devido o horário de verão, fomos para um bar chamado Santíssimo, e veja só que coincidência, a decoração era com imagens de santos. E por fim me encontrei num mundo aparentemente análogo que parecia muito com o local onde trabalho, materializando assim alguns devaneios impróprios que me ocorrem num edifício colonial branco com janelinhas verdes que em POA fica “vinte e cinco pila” do centro...
No dia seguinte, após a preocupação vã de acordar cedo para comer churrasco com a turma e encontrá-los todos dormindo, fomos novamente para o cais e vimos mais algumas intervenções artísticas com algodão doce lilás e fumaça cor de rosa (há controvérsias sobre a cor). Também tivemos um breve momento ilusório de sermos elite observando veleiros no horizonte.

Almoçamos perto da CCMQ. Descobri que existe um sanduíche que se chama x-coração e que um pastel de queijo pode escorrer uma quantidade de óleo suficiente para encher meia xícara de café. Depois de conhecer outros locais onde também ocorria a Bienal, conheci o Parque Farroupilha (Redenção), onde acontecia um show de “tchê music” e havia várias tribos. Lá também encontramos mais amigos, entre eles o Ozyrys, o amigo-“irmão” do Diego.
Diego e Ozyrys
Na Capadócia encerramos a noite. Um barzinho GLS muito aconchegante com cores vibrantes e contrastantes. Mesmo acompanhada, uma mulher me cantou no balcão dizendo que lembrou da Frida Kahlo quando me viu. Parece que independente da cidade, essa associação sempre será feita.
Na segunda-feira de manhã, as paulistanas tiveram um workshop no mercado municipal para aprender como se faz chimarrão. E no coreto em frente o mercado fomos atendidas por um garçom que logo percebi ser carioca pelo sotaque e pelas ausências dos “tchê”, “bah”, “guria” e “tu”. Na dúvida do que fazer, as meninas (Dani e Mara) e eu lembramos que o pôr-do-sol não é algo que fecha as segundas como os museus. Fomos então para o Gasômetro às margens do Rio Guaíba.
minha contemplação particular
Foi divulgada uma informação equivocada de que haveria uma performance no teatro. Não houve, porém conhecemos mais outra turma, alguns gaúchos, paulistas e até um carioca. Para nos conhecermos melhor rolou até uma “apresentação comunitária” com foco em afinidades entre as “grandes áreas de interesse” e principalmente em encontros propiciados pela Internet... resumidamente como conheci o Diego há três anos.
Terça-feira acordei frustrada por saber que em breve não estaria mais me deleitando dos prazeres daquela cidade, mas ainda aproveitei para visitar novamente o cais, o Centro Cultural Santander, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul e com a Dani fui almoçar no CCMQ e tomar um sheik na Fundação Iberê Camargo.
Casa de Cultura Mario Quintana
Fiquei impressionada com a placa de advertência na Fundação Iberê com o seguinte desenho:
Fundação Iberê Camargo
Quando vi no aeroporto de Guarulhos uma senhora tomando chimarrão, achei meio exagerado, mas é completamente normal no Sul. Eles tomam em T-O-D-O lugar. É tipo sair de casa e levar o celular. Carregam a cuia e uma garrafa térmica nas mãos, tem até uma bolsa só para isso.
Lá do Iberê descobrimos que não se pode ir a lugar algum. Foi quase uma “infinita highway” para chegar no shopping Praia de Belas. Em POA não tem as marcas convencionais dos absorventes de São Paulo e as pessoas não andam de havaianas quando está calor. A Pepsi faz mais sucesso entre os gaúchos que a coca-cola, o que mais se vê nas ruas são camisetas do grêmio e os sul-rio-grandenses conseguem acentuar o próprio sotaque... como isso é possível? Não consigo nem saber como é o meu!
Quando saímos do hotel com nossas malas muito mais pesadas do que chegaram e a da Mara parecendo que tinha um corpo dentro, pegamos um táxi com destino ao aeroporto. Fiquei muito triste por não poder ver o laçador de onde estávamos, mas o taxista, chamado Jorge, cordialmente me levou em frente a estátua e até falou que me esperava se eu quisesse fotografar o monumento, isso tudo sem cobrar valor a mais.
monumento símbolo de Porto Alegre: O Laçador
Voltando para casa, lá de cima vi Porto Alegre anoitecida parecendo um mar de luzes.
No ritmo “atucanado” de São Paulo, para conter minha saudade até a próxima viagem, agora restam-me as canções gaúchas e o gosto sutilmente amargo do mate para iniciantes. Não obstante da minha mãe ser mineira, meu pai pernambucano, e eu paulistana, acho que meu coração parece ser porto-alegrense.

2 comentários:

  1. Que viagem incrível, Chris. Consigo imaginar como se divertiu =D Espero ainda a oportunidade que venha para cá e quem sabe gaurde boas lembranças tbm ^-^

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