segunda-feira, 31 de maio de 2010

RS: 13-05-2010 ~ 18-05-2010

E eu me joguei! - foto por Anderson Shimamoto
Enfim, 13 dias após regressar a São Paulo resolvi compartilhar as minhas novas peripécias em Porto Alegre. Lembro da primeira vez que voltei do Rio Grande do Sul e de toda a saudade que senti. Esperava desejosa pelo meu retorno, mas como foi difícil conseguir os benditos dias livres para viajar! Minha intenção era voltar em fevereiro, acabei adiando para as minhas férias em maio, mas as mesmas foram canceladas. Porém, toda minha tristeza e frustração foram compensadas com alguns dias de folga, suficientes para pôr a vida em ordem, rever amigos, jogar um pouco vídeo-game, desenhar e finalmente voltar a Porto Alegre.
Durante os meses de espera, em todos os lugares havia algo que ao Sul me remetia. Um dia, por exemplo, enquanto estava no ônibus observando o céu, vi no alto de um prédio um homem tomando chimarrão, olhando na direção do aeroporto. E ele? O que sonhava? Fiquei a imaginar...
Como é difícil planejar uma viagem! Passagens aéreas, malas... resolvi chegar lá numa quinta pela manhã e voltar terça bem cedo para ir literalmente de mala e cuia direto para o trabalho.
Então no dia 13 desse mês lá estava eu no aeroporto, tendo à frente dos meus olhos a mais sublime visão, silhuetas enegrecidas dos prédios envoltas pelas cores do céu amanhecendo. E tirando os ouvidos tampados, foi tão belo contemplar as nuvens lá no alto, todas tingidas de diferentes tons.
Ter meus pés em Porto Alegre novamente e ver entre tantas pessoas alguém a tanto tempo muito querido aguardando a minha chegada, definitivamente já compensava todos os maus imprevistos pelos quais passei.
Nesse mesmo dia conheci a cidade do Diego: Gravataí. Uma singela e pacata cidadezinha com casas coloridas e meigos jardins. Conheci duas casas particulares que se tornaram museus: a Casa dos Açores e o Museu Municipal Agostinho Martha.
Museu Municipal Agostinho Martha
Também vi muitas pessoas usando a camiseta do grêmio (aqui só vejo o meu irmão e a minha sobrinha usando), parecia até uniforme. Na casa do Diego conheci o Jackson Felipe Reis, um jovem moço de dezessete anos que com treze já mostrava grande talento como escritor. Fascinante! Tomei chimarrão com a família do Diego e vibrei de alegria quando Dona Maria me ensinou como preparar. Ah, que família bela! Vi um “guri” tão lindo quanto o pequeno príncipe que com três aninhos já toma chimarrão. Não me recordo a última vez que me encontrei num lar tão aconchegante. Voltamos depois para Porto Alegre. No Pub 7 (número evidente na minha vida, até o portão de embarque era número sete), reencontrei um amigo, o Ozyrys, e conheci o Fabrício (um moço super boa-praça e “sem papas na língua”). Juntos, Diego e Fabrício, formam a Notória Bossa. Enquanto apreciava o trabalho deles, iludia o vento frio que entrava pela porta tomando duas doces doses de conhaque tornando todo aquele ambiente muito mais onírico.
No dia seguinte foi preciso muita coragem para se levantar, mas como sempre compensou cada momento. Conheci as tão bem faladas aulas do professor Raimundo Mainardi, vi mais uma apresentação da Notória Bossa na cidade de Cachoeirinha (notório também foram todos os entreolhares...). Nesse mesmo dia houve um show do Teatro Mágico no Cais do Porto, mas não pudemos assistir pois em poucos minutos meu amigo de trabalho, Anderson, chegava de São Paulo para nos encontrar. Enquanto estávamos a caminho do aeroporto para recebê-lo, só conseguia pensar em como é grande minha paixão pela cidade porto-alegrense e sua quimera arquitetura. Quando vi o Guaíba a noite no cais desejei que pudesse colocá-la dentro de uma pequena redoma e carregá-la continuamente comigo.
Como já dizia Mario Quintana em O Mapa, "Há tanta esquina esquisita,/ tantas nuances de paredes..." - foto por Anderson Shimamoto

 
Nas palavras do Diego, "o trio ternura"! - foto por Anderson Shimamoto

Na manhã do dia 15, eu e o Anderson tomamos café ao som de Roberto Carlos. Quando não é a Arte Sacra ou Colonial me perseguindo, é sempre algo que tenha haver com algum trabalho. Cito isso pois fomos plantonistas na exposição do Roberto na Oca. E das coisas mais impossíveis que poderia acontecer, o Anderson foi chamado de meu esposo (falo com carinho, mas com toda a minha feminilidade sinto-me às vezes masculina perto dele...). Apresentei à ele o Cais do Porto. Não sei o que se passou naquele lugar, mas nunca havia visto tantas teias de aranha num lugar aberto. Até pareciam que as teia se desenrolavam do firmamento.

Tiramos belas fotos no cais, na Casa de Cultura Mario Quintana e do pôr-do-sol no Gasômetro. Nossos olhos sempre cintilando de alegria, no meu caso, principalmente quando tomei uma Polar e comi um "x" (parece que toda porção no sul é assim, o "x" já conhecia, mas fiquei surpresa ao ver que até um misto quente era grande também). A noite reencontramos o Diego e o Ozyrys para ir numa balada na Cidade Baixa. Foi divertido até o momento que ainda conseguia dançar, pois a casa lotou. Ah, aqui cabe um adendo – nunca imaginei que sentiria tanta falta da lei anti-fumo em lugares fechados.
No domingo não poderia haver outro programa, eu e o Anderson fomos ao Parque Redenção. Encontramos o Rafael, que conheci na Bienal do Mercosul naquela noite nonsense de segunda-feira (leia a viagem anterior para RS) e a Edi, uma amiga que conheci no museu onde trabalho. Aconteceu um pequeno desencontro no Bric, pois não sabia exatamente onde era o começo ou fim. Perdidos depois encontrados, passeamos proseando pelo parque e fomos almoçar num restaurante indiano. Foi "tribom"!
foto por Anderson Shimamoto

Com a Edi, caminhamos a tarde toda pelo centro apreciando a arquitetura, os museus e os monumentos.

Obra que conheci numa aula de história da arte no MASP e tive o prazer de vê-la pessoalmente no MARGS.
La faiseuse d’anges, 1980
Pedro Weingartner
Óleo sobre tela, 150 x 260 cm

Ainda na vibe dos reencontros, fomos comer mini pizza com o Diego, o Rafa, a Aline (que também conheci na Bienal no ano passado) e a Michele – moça super estilosa. Depois dessa viagem tenho certeza que gengibre vai bem com tudo, com cachaça ou, para quem tem aversão ao álcool, suco de banana.
foto por Anderson Shimamoto

Comecei a sentir tristeza pele manhã da segunda-feira, pois se aproximava o fim da viagem. O Anderson e eu fomos acompanhados pelo Diego ao Mercado Público para comprar alguns presentinhos, e eu queria muito conhecer a tão falada banca 40 – a mais antiga do mesmo.
foto por Anderson Shimamoto
Seguimos juntos para Gravataí. Boas companhias, tempo bom mesmo com friozinho, chimarrão e churrasco, já estava me sentindo uma gaúcha! E que mimo, confesso não ter ganhado chocolates de ninguém na Páscoa, mas pr’a compensar ganhei uma linda caixinha de saborosos bombons da Dona Maria!

De volta a Porto Alegre se aproximava o momento da despedida. Caminhávamos juntos pela rua da Praia, a qual quase não a reconheci submersa na escuridão de uma noite com chuviscos. Iluminada com as mesmas luzes de tom sépia de São Paulo, contemplei novamente aquela bela cidade com suas luzes a refletir sobre os paralelepípedos umedecidos da breve chuva que antecedeu nossa caminhada.
foto por Anderson Shimamoto
Que terça-feira mais melancólica! Mesmo com a certeza de voltar em breve, não conseguia me libertar das lágrimas. Elas não paravam de escorrer pelo meu rosto enquanto via a chuva, tudo, tão cedo e tão nostálgico.
Minha alegria aqui são minhas amáveis lembranças das introspectivas noites boêmias, da textura e sabor do ar, dos aconchegantes abraços. Sigo aqui adoçando minha “saldade” com o gosto amargo do chimarrão... poderia escrever muito-muito-muito mais, mas ninguém teria paciência de ler (risos)...
foto por Anderson Shimamoto

2 comentários:

  1. Amei Cris! Escreve divinamente! bjocas e volte sempre!

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  2. Olá Christiane!
    O melhor passeio em São Paulo é o cultural!
    Prazer em estar aqui!
    “Para o legítimo sonhador não há sonho frustrado, mas sim sonho em curso” (Jefhcardoso)
    Gostaria de lhe convidar para que comentasse a minha crônica “A CASA DE PORTINARI”. Ok?
    Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com

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