domingo, 5 de janeiro de 2014

MG: 26-12-2013 ~ 02-01-2014

No final de 2013 tive a impressão que os meus amigos mais próximos buscaram a sua essência viajando para os lugares onde nasceram ou de onde seus pais vieram. Comigo não foi diferente. A convite de uma querida amiga, fui para Minas Gerais.

Minha mãe, Maria das Graças Duarte, em Ouro Preto - Ela está de olhos fechados por "inconveniência" do fotografo. 

O caminho foi saudoso. Acordar de madrugada, mas iniciar o percurso após as 8h (é importante enfatizar que a Suellen acordou as 3h30 e foi a primeira a chegar no local onde combinamos de nos encontrar). Viajamos de carro com o Fernando e seus amigos do tempo do colégio. Havia me esquecido do cheirinho de mato na estrada e da agonia pelo aguardo de alguma parada quando se precisa fazer xixi.

Foto por Fernando Fileno.

Nossa carona foi até Brumadinho, onde nos separamos dos meninos e encontramos outros amigos. A cidade nos recebeu com um arco-íris e uma chuva tão forte que subia a ladeira. Ficamos no Miguelito e tomamos um delicioso caldo de feijão. Quando o bar começou a esvaziar e o pessoal cantar em coral “foi bonito foi, foi bonito foi”, fomos embora após a esdrúxula cena de um rapaz borracho guiar um cavalo.

E no caminho, descobri o porque do nome da cidade quando vi as brumas pairando na estrada...

Foto por Christiane Duarte.

Do dia 26 ao 29 ficamos na casa da mãe do Anderson, a Dona Vera. Ah, que mamãe mais querida! Como naquele dito sobre coração de mãe, ela e seu companheiro Fernando acolheu em sua casa com todo conforto sete jovens vindos de São Paulo, oferecendo café quentinho, empadão, tutu e outras comidas caseiras deleitosas.

A casa da Dona Vera, fica longe do centro de Brumadinho. A estrada é de terra, no quintal as cigarras cantarolam, se ouve de tempo em tempo o som do trem e nas árvores distantes, olhando com atenção, é possível encontrar até tucanos.

Vai diminuindo a cidade, vai aumentando a simpatia...
Café tá quente no bule, barriga não tá vazia,
Quanto mais simplicidade, melhor o nascer do diaSimplicidade, Pato Fu.

O Anderson nos levou para conhecer Inhotim, um museu de arte contemporânea (arte poramporam segundo o Beto) com galerias distribuídas em um imenso jardim com as mais belas plantas. Lá nós interagimos e nos divertimos com as Cosmococas do Oiticica e transcendi a minha alma com a obra “forty part motet”* de Janet Cardiff. No outro dia, o Anderson e a Taís nos apresentaram o Bar do Beto, onde é preciso atravessar de barco um rio. No bar, era possível ver a piracema acontecer. Pode até parecer esquisito ver os peixes nadando contra a correnteza para subir a queda d’água, mas nós humanos fazemos o mesmo quando lutamos para nos desvencilhar das nossas próprias alienações...

Foto por Christiane Duarte.

No dia 30 seguimos para Ouro Preto. Entendi em toda sua completude a expressão “mala sem alça” – definitivamente preciso carregar menos coisas!

Quando chegamos em Ouro Preto fui tomada por um deslumbre! Todas aquelas ladeiras com chão de pedras, casas que exalam o passado, em cada direção do olhar uma igreja, tudo rodeado por montanhas e extensas áreas verdes. Tudo era lembrança, os (in)confidentes, Marília e Dirceu, minha mãe muito religiosa e sua irmã caminhando por aquelas ruas... Quando viva, mamãe me contou que quando era criança as missas eram em latim e começavam uma atrás da outra, por isso meu vovô João tinha que ir busca-la, pois caso contrário ela ficaria o dia todo dentro da igreja.

Rua do Pilar - Foto por Christiane Duarte.

No último dia do ano, fui com o Rodrigo visitar minha prima Maria. Uma senhora muito amável, sobrinha do meu avô. Quando muito pequenina, eu ia com osnmeus pais e a minha tia para a casa dela. Lugar aconchegante, paredes brancas e janelas azuis e na sala um quadro com a pintura de um trem. Lá é possível ouvir o som de água corrente proveniente de um pequeno córrego que passa nos fundos da casa. Ela preparou um almoço com angu e couve colhida de seu próprio quintal.

Foto por Rodrigo Monteiro.

Nossa virada foi acolhedora como o coração dos mineiros. Com a ideia da Suellen e a ajuda de todos (onde ficamos hospedados encontramos mais amigos vindos de Ferraz em São Paulo), fizemos um jantar lindo a luz de velas azuis e verdes.

Perto da meia noite fomos para a Praça Tiradentes, e o ano novo foi anunciado ao som de sinos e fogos que pipocavam de trás das montanhas. Depois fomos para o “portal”, um lugar onde existe uma escadaria que parecia dar acesso ao céu.

Museu da Inconfidência - Foto por Christiane Duarte.

Em 2012, a Renata, uma amiga de infância encontrou o meu contato, e no dia primeiro  de 2014 começamos nosso ano nos reencontrando. Junto com sua mãe e seu namorado, conversamos sobre nossas lembranças e fomos visitar minha prima Maria. Reunidos em sua casa, conversamos sobre a minha mãe e senti que ela estava feliz como todos aqueles reencontros...

Foto por Marlon Vieira.

O dia seguinte foi de despedida. Passeando pelas ruas conhecemos um senhora chamada Maria. Ela nos levou ao “Barroco”, disse que éramos seus amigos e pediu para servir uma “cachaça da roça”. Chego ao remate que as outras partes do Brasil, principalmente os paulistas, deviam fazer uma vivência em Minas Gerais para serem mais acolhedores.

Igreja de São Francisco de Assis - Foto por Christiane Duarte.

Para não dizer que não entrei em nenhuma igreja, conheci a de São Francisco de Assis com suas esculturas do Aleijadinho e pinturas do Mestre Ataíde.
Cheguei e parti de Ouro Preto com a lembrança das pinturas de Guignard. Sinto o mesmo que ele quando se referiu à Ouro Preto como a cidade de “Amor e Inspiração”.

Desenhos de Guignard - Fonte: http://www.cultura.mg.gov.br/

http://www.youtube.com/watch?v=0_oehc90D1M - Forty part Motet - Spem in alium nunquam habui.

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